quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PRELIMINARES A RESPEITO DA BÍBLIA

Este trabalho versa sobre o aconselhamento bíblico, por isso o iniciaremos com uma abordagem sobre a Bíblia, uma vez que ela é fundamental para o entendimento e a prática deste ministério cristão.

1. Terminologia
O termo “Bíblia” tem origem no vocábulo grego biblion que significa “livro” ou “rolo”, mas os termos que a própria Bíblia normalmente menciona a respeito dela mesma no Novo Testamento são “Escritura” e “Palavra de Deus”.

2. Composição
A Bíblia é composta por 66 livros, sendo 39 livros no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Estes livros estão organizados não em ordem cronológica, mas sim em ordem temática:
Antigo Testamento

Lei    5 livros – Gênesis a Deuteronômio      
Históricos    12 livros – Josué a Ester      
Sabedoria e poesia    5 livros – Jó a Cantares      
Profetas Maiores    5 livros – Isaías a Daniel      
Profetas Menores    12 livros – Oséias a Malaquias   
Novo Testamento

Evangelhos    4 livros – Mateus a João      
Histórico    1 livro – Atos      
Epístolas Paulinas    13 livros – Romanos a Filemom      
Epístolas Gerais    8 livros – Hebreus a Judas      
Apocalíptico/ Profético     1 livro - Apocalipse   
Quadro 1 – Ordem dos livros da Bíblia
A Bíblia tem cerca de 40 autores e foi escrita num período de 1500 anos aproximadamente, sendo de Moisés (1450 a.C.) até João (95 d.C), todavia, foi preservada por Deus por todos estes anos e apresenta uma unidade em sua mensagem, já evidenciando sua formação sobrenatural.
Os textos originais da Bíblia são chamados de autógrafos. Estes autógrafos produzidos pelos escritores bíblicos foram escritos em: Hebraico e algumas porções em Aramaico (Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-26; Daniel 2.4 a 7.28 e Jeremias 10.11) no AT e Grego no NT.

3. Inspiração
Conforme podemos ler em 2 Timóteo 3.16, a Bíblia, isto é, Toda a Escritura, é inspirada por Deus.
O termo traduzido por “inspirada por Deus” significa literalmente “soprada por Deus”, logo, a ênfase está sobre a fonte das Escrituras. As Escrituras são provenientes de Deus.
Inspiração foi o processo divino sobre escritores humanos da Bíblia, de modo que, o Espírito Santo usou as próprias personalidades e estilos dos mesmos, de tal modo, que eles escreveram o que Deus queria que escrevessem e foram guardados de qualquer erro nos escritos originais (autógrafos).

3.1 Inspiração Verbal e Plenária
3.1.1 Inspiração verbal: Toda a Escritura, em seus escritos originais, foi inspirada palavra por palavra. A inspiração não é apenas de idéias ou conceitos, mas verbal. Devemos levar em consideração número, gênero, etc., de cada palavra, pois até neste ponto chegou a intensidade da inspiração de Deus. Gl 3.16 “descendente”; Mt 5.18 “Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.”
3.1.2 Inspiração plenária: Plenária vem de pleno, completo. Toda a Bíblia é inspirada e não apenas algumas partes. Todos os 66 livros canônicos são inspirados por Deus. 2 Tm 3.16 “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...”
3.2 Estilos pessoais dos escritores bíblicos
Muitos críticos dizem que a Bíblia é um livro escrito por homens e eles têm razão. A Bíblia foi realmente escrita por homens como ela mesma declara. Vejamos o que 2 Pedro 1.21 diz: “porque nunca, jamais, qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo.”
A expressão “movidos” significa literalmente “carregados”. Então, os homens que escreveram a Bíblia fizeram isto sob a supervisão e orientação do Espírito Santo.
Os estilos pessoais dos escritores foram preservados. Em Romanos 9.3 (“eu mesmo desejaria...”) temos uma demonstração do sentimento do apóstolo Paulo. Em 1 Coríntios 7.12, parece que Paulo está simplesmente dando sua opinião sobre o casamento, mas notamos no versículo 40 que ele compreendia a autoridade de seus ensinos.
Pedro reconhecia que alguns escritos de Paulo eram mais difíceis de serem compreendidos (2 Pe 3.16), isto devido a sua formação intelectual, mas o Espírito Santo também moveu homens simples como Amós (Am 1.1; 7.15), um pastor na vila de Tecoa, que ficava a cerca de 16 quilômetros ao sul de Jerusalém, bem como Lucas, um médico (Cl 4.14), o único gentil a escrever no Novo Testamento.
Lucas ao escrever o evangelho com o seu nome, deixa evidente seu estilo do ponto de vista médico, por exemplo: falando sobre a “febre alta” da sogra de Pedro (Lc 4.38) ou usando termos médicos (Lc 14.2).
Algumas partes das Escrituras foram ditadas por Deus aos homens escritores: Is 1.2 “...o SENHOR é quem fala:...”; Jr 4.1 “A mim me veio, pois, a palavra do SENHOR, dizendo:”; Ez. 12:8 “Pela manhã, veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:”; Ex 17.14; Jr 30.2. Outras partes foram resultados de pesquisas, mas ainda assim sob a supervisão divina de todo o processo: Lc 1.3 “...acurada investigação...”; .2 Cr 16.11 “...estão escritos no livro dos reis de Judá e Israel.”

3.3 Outros aspectos da inspiração:
3.3.1 Inerrância: Além de totalmente inspirada por Deus, a Bíblia é perfeita, ou seja, sem erros. Todos os assuntos por ela mencionados como geográficos, históricos e científicos são inerrantes (existência de cidades, povos, reis, comprovado pelas descobertas arqueológicas e outros registros seculares).
3.3.2 Infabilidade: A Bíblia é infalível, ou seja, não falha. Suas profecias se cumpriram, se cumprem e se cumprirão com perfeita exatidão.  Jo 10.35 “...a Escritura não pode falhar,”; Js 6.26 com 1 Rs 16.34; Is 7.14 com Mt 1.22, 23; Jo 13.38 com Jo 18.27;
3.3 Veracidade: Toda Escritura é verdadeira. O que Deus diz é de fato. Tt 1.2 “... o Deus que não pode mentir...”; Rm 3.4 “...Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem...” Jo 17.17 “...a tua palavra é a verdade.”
Estes aspectos acima mencionados colocam o aconselhamento que depende única e exclusivamente da Bíblia em uma posição acima de qualquer outra metodologia de aconselhamento. Por exemplo: no Salmo 19, versículo 7, lemos: “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma...”, sendo assim, ela é suficiente para tratar da alma do ser humano, não somente isto mas ela é superior, pois é completa, em relação a qualquer outra abordagem que não se utiliza das Sagradas Escrituras. Ela é inerrante, infalível e verdadeira.

4. Canonicidade
A expressão cânon está relacionada aos livros bíblicos que foram considerados inspirados por Deus e dignos de autoridade. A palavra em si significa “regra” ou “norma”.
66 livros foram considerados inspirados e de autoridade, sendo 39 do AT e 27 do NT. São apenas estes livros que podemos considerar como Palavra de Deus e vale destacar que eles não são inspirados porque foram escolhidos por homens em concílios eclesiásticos para assumir esta posição de autoridade, mas sim porque apresentam evidências de que são resultado da revelação de Deus aos homens.
Vejamos alguns aspectos:
4.1 Relação entre AT e NT: Podemos reconhecer a autenticidade do AT pelo NT. Em Mateus 15.4, lemos o seguinte: “Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte.” Notemos que Mateus citou textos do AT (Ex 20.12 e 21.17; Dt 5.16; Lv 20.9), iniciando sua citação com a expressão “Porque Deus ordenou”.
O apóstolo Paulo também citou em Atos 28.25-27 o texto de Isaías 6.9-10 dizendo que foi o Espírito Santo quem disse aquelas palavras.
Além do mais, o próprio Jesus Cristo validou todo o AT quando em Lucas 24.44 citou as três principais partes do AT segundo os judeus: “Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (para os judeus as três principais partes são: Torá, Profetas e Escritos, sendo que Salmos é o maior livro desta última seção) e também quando em Mateus 23.35 se referiu a morte de Abel que se encontra em Gênesis e também a morte de um homem chamado Zacarias que se encontra em 2 Crônicas 24.20-22, que no cânon hebraico é o último livro, portanto é como se dissesse de Gênesis a Malaquias. Jesus Cristo também em Mateus 22.29 fez referência a todo o AT usando o termo “Escritura”.
Outro aspecto importante na relação do NT com o AT são as citações de eventos e personagens do AT. Adão e Moisés são citados em Romanos 5.14. Jó em Tiago 5.11; Jonas em Mateus 12.39; entre outros. Mas citações como a de Atos 1.16 (“Irmãos: Convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi,...” com Sl 41.9; 69.25; 109.8) comprova a perspectiva que os escritores tinham a respeito do AT – autoria do Espírito Santo.

4.2 Consciência da autoridade
Pelo menos por alguns momentos, os escritores bíblicos tinham consciência de estarem participando da revelação de Deus aos homens. Davi e Paulo são dois exemplos. Vejamos os textos de 2 Samuel e de 1 Coríntios:
Davi - 2 Sm 23.2 “O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua”. Paulo – 1 Co 14.37 “Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo.”
Pedro comentando os escritos de Paulo também demonstra consciência da composição das Escrituras do Novo Testamento – 2 Pe 3.14-16: “...o nosso amado irmão Paulo vos escreveu... em todas as suas epístolas... como também deturpam as demais Escrituras, ...”
Porém, nem todos os escritos destes homens foram inspirados (apenas os que constam na Bíblia), ou seja, nem tudo o que eles escreviam eram textos “soprados” por Deus, como a carta de Paulo aos Laodicenses (Cl 4.16), mas isto não significa que estas cartas não inspiradas eram inadequadas para a igreja.

4.3 Critérios da canonicidade para o NT
 O Concílio Eclesiástico de Cartago, realizado em 397 d.C, reconheceu os 27 livros do NT como canônicos, ou seja, como inspirados, mas antes disso todos os livros já eram utilizados como a Palavra de Deus. Definir os livros canônicos foi uma medida de defesa da fé, pois alguns falsos livros estavam surgindo e contaminando a sã doutrina oriunda dos textos sagrados.
Quatro critérios foram utilizados para reconhecerem os 27 livros do NT: Apostolicidade, Conteúdo, Universalidade e Inspiração.
Apostolicidade: Este critério considerava a autoria do livro. O livro deveria ter sido escrito por um apóstolo, como Mateus, ou por uma pessoa influenciada por um apóstolo, como Lucas e Marcos. Lucas influenciado por Paulo e Marcos por Pedro.
Conteúdo: Este critério considerava o conteúdo do livro. O livro deveria apresentar conteúdo de acordo com os textos do AT e harmoniosos com os demais livros do NT.
Universalidade: Este critério considerava o uso, a utilização do livro pelo meio eclesiástico da época. O livro deveria ter uma ampla aceitação pela igreja.
Inspiração: Este critério considerava as evidências internas do livro relacionadas as provas de inspiração divina.

5. Traduções e versões
A Bíblia foi escrita em Hebraico e Aramaico no AT e Grego no NT. Por volta do terceiro século a.C. uma tradução do AT Hebraico foi feita para o grego. Esta tradução é conhecida como Septuaginta (LXX).
Os números dos capítulos e versículos foram acrescentados a Bíblia para facilitar o estudo e pesquisa. A divisão por capítulo foi feita em 1250 d.C. e a divisão por versículos em 1550 d.C..
A primeira tradução para a língua portuguesa foi feita por João Ferreira de Almeida em 1681 d.C. Almeida nasceu em Portugal em 1628 e morreu aos 63 anos de idade, dez anos após a tradução da Bíblia para a língua portuguesa.
Atualmente encontramos várias versões em português utilizadas pelos cristãos evangélicos em geral, como por exemplo, as editadas pela SBB – Sociedade Bíblica do Brasil (ARA – Almeida Revista e Atualizada e ARC – Almeida Revista e Corrigida); SBT – Sociedade Bíblica Trinitariana (ACF - Almeida Corrigida Fiel); SBI - Sociedade Bíblica Internacional (NVI – Nova Versão Internacional); e, mais recentemente, temos uma versão chamada de Bíblia Século XXI da Edições Vida Nova, revitalizando a versão da IBB – Imprensa Bíblica Brasileira. Todas elas são baseadas nos textos escritos em Hebraico, Aramaico e Grego, e apresentam pequenas particularidades que as distinguem uma das outras.
Como diz o estudioso de versões bíblicas Luiz Sayão, existe um grupo de pessoas no círculo evangélico brasileiro, entre eles a própria Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, que defende que o único texto bíblico em português que realmente pode ser chamado de Palavra de Deus é a versão Almeida Corrigida Fiel (ACF). Eles argumentam que somente esta versão está baseada unicamente nos manuscritos, chamados de Texto Recebido ou Texto Receptus, que são os textos inspirados por Deus e utilizados por João Ferreira de Almeida. Este Textus Receptus também serviu de base para a versão inglesa de 1611, chamada de King James Version.
Porém, o denominado Texto Crítico (base para muitas outras versões) não deve ser desprezado. O Texto Crítico considera milhares de outros manuscritos e por meio da crítica textual nós podemos ter certeza do maravilhoso processo de supervisão divina sob as cópias e versões que se espalharam pelo mundo, a ponto de hoje termos em mãos excelentes versões bíblicas disponíveis em língua portuguesa que podemos reconhecer como as Escrituras Sagradas.

6. Iluminação e interpretação
No nosso estudo da Bíblia dependemos do Espírito Santo agindo em nós. A obra iluminadora do Espírito é necessária para que saibamos a vontade de Deus através da sua Palavra. Contudo, é importante estudarmos os aspectos gramaticais, históricos e teológicos da passagem. Isto é muito importante para a prática do ministério de aconselhamento bíblico.
Todo texto da Bíblia tem um propósito, uma só interpretação. Podemos fazer várias aplicações, mas o escritor tinha um único propósito ao dizer tais palavras que formam um texto bíblico. Judas deixa claro o seu propósito (Jd 3) assim como João em seu evangelho (Jo 20.30-31).
Devemos ser cautelosos na interpretação da Bíblia para pregarmos e ensinarmos corretamente a Palavra de Deus, com dedicação e dependência do Espírito. 1 Co 2.13; 1 Pe 1.10-12; 1 Co 2.10-14.

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