segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PILATOS E OS MERCADORES DO EVANGELHO

Entre as convicções e os interesses.

Após a prisão de Cristo no Getsêmani, muitas pessoas participaram dos interrogatórios e julgamentos ocorridos durante a noite e na manhã seguinte.

O primeiro foi diante do Sinédrio, que era o tribunal religioso judaico, formado por 71 membros (Mt. 26.59). Os sacerdotes e anciãos de Israel, não querendo assumir a responsabilidade pela morte de Jesus, enviaram-no ao governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos (Mt. 27.2). Este, não encontrando culpa no Senhor, e ouvindo que se tratava de um Galileu, enviou-o a Herodes, rei da Galiléia (Lc. 23.7). Novamente, concluiu-se que Jesus não tinha cometido crime algum e devolveram o réu a Pilatos (Lc. 23.11).

Todas aquelas autoridades tiveram a preciosa chance de verem e ouvirem o Senhor Jesus (Lc. 23.8). Contudo, consideravam-se maiores do que ele. Poderiam ter sido salvas, mas perderam a oportunidade.

Ninguém queria assumir o peso da execução de Cristo, mas, por outro lado, nenhum daqueles homens tomou a iniciativa de libertá-lo. Queriam, talvez, a neutralidade naquele assunto, mas suas decisões eram contra o Senhor.

Pilatos, recebendo Jesus pela segunda vez, viu-se diante de um dilema. Ele poderia simplesmente libertá-lo e desejava fazê-lo (Lc. 23.20). Até Cláudia, esposa do governador, advertiu-o para que não se envolvesse com aquele justo (Mt. 27.19). Contudo, o líder romano estava profundamente envolvido com a defesa de seus próprios interesses. Fazer justiça não era sua prioridade.

Sua permanência no cargo dependia do equilíbrio entre dois propósitos nem sempre conciliáveis: agradar ao povo judeu e agradar ao Imperador. Se desagradasse ao povo e às autoridades religiosas, poderia haver tumultos na cidade. Se tal coisa chegasse ao conhecimento de César, a cabeça do governador poderia ser pedida.

Portanto, tendo Cristo diante de si, Pilatos precisava tomar uma decisão que não ameaçasse sua posição. Começou então uma rápida negociação. Se era para agradar ao povo, faria o que o povo mandasse. Assim, não haveria revoltas e seu governo seria mantido.

"O governador, pois, perguntou-lhes: Qual dos dois quereis que eu vos solte? E disseram: Barrabás. Tornou-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, que se chama Cristo? Disseram todos: Seja crucificado. Pilatos, porém, disse: Pois que mal fez ele? Mas eles clamavam ainda mais: Seja crucificado. Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo contrário que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja isso lá convosco" (Mt. 27.21-24).

Pilatos concluiu que Jesus era justo, mas, em um ato de incoerência, mandou crucificá-lo. Usou sua autoridade, mas desejou transferir as consequências para o povo. Preservou sua posição naquele dia, mas perdeu o cargo poucos anos depois, quando as desordens em Jerusalém chegaram ao conhecimento do Imperador Calígula (36 d.C.). Ao que tudo indica, a vida tornou-se insuportável para Pilatos. Embora tenha lavado as mãos, não conseguiu lavar seu coração, consciência e memória. Ele continuou se lembrando do dia em que entregou Jesus para ser morto. Pode até ter ouvido falar a respeito da ressurreição, mas ele não era um dos que acreditavam nisso. Conforme informações de Eusébio de Cesaréia, Pilatos suicidou-se no ano 37.

Cada um de nós precisa também decidir-se a respeito de Jesus, aceitando-o ou rejeitando-o. Não há como manter-se neutro a esse respeito. Ainda hoje é possível entregá-lo ao escárnio diante da sociedade, através de escândalos e maus testemunhos. Está escrito que muitos o têm crucificado novamente, expondo-o ao vitupério (Hb. 6.6). Isto acontece quando os interesses egoístas são colocados como valores superiores a Cristo e ao evangelho. Quando a política e o dinheiro são colocados acima do amor, da fé e da justiça, negociações espúrias se realizam, más escolhas são feitas e Barrabás sai ganhando.

A morte de Jesus seria o fato central no plano de Deus para a salvação dos homens. Entretanto, não ficariam sem culpa aqueles que o condenassem. Consequências viriam. Lavar as mãos de nada adiantaria.

Naquele dia, Pilatos julgou e condenou o Senhor Jesus. Porém, no juízo final, as posições serão invertidas. Jesus será o juiz e Pilatos será réu. No dia do julgamento, não haverá água para lavar as mãos nem para que se apaguem as chamas do fogo eterno.

Nosso propósito não é "crucificar" Pilatos, mas aprender preciosas lições com sua experiência. Tomemos cuidado para não colocarmos valores deste mundo acima do Senhor. Aqueles que trocam Jesus por dinheiro, cargos, título, posições, vantagens e favores podem tornar insuportáveis suas vidas. Ao perderem Jesus, perdem a paz e a razão de viver. Não foi o que aconteceu com Judas Iscariotes?

Conscientes do tamanho da responsabilidade que nos atinge, respondamos positivamente à pergunta: "O que farei então de Jesus, que se chama Cristo?”.

Aceitemo-lo como Senhor das nossas vidas, acima dos interesses do povo ou dos impérios. Vivamos para agradá-lo, ainda que, para isso, precisemos desagradar a muitos, inclusive a nós mesmos, renunciando aos interesses particulares que forem incompatíveis com o reino de Deus.

Anísio Renato de Andrade

Bacharel em Teologia

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